Crônica aborda sobre vidas que dependem da coleta de lixo para sobreviver

Carregando o mundo nas costas – Assisti há pouco um documentário sobre vidas. Sobre um sistema econômico injusto e entristecedor e sobre generosidade. O relato de pessoas que sobrevivem com pouquíssimo (1 dolar por dia). O documentário lançava reflexões sobre o que pode ser feito para ajudar pessoas em vulnerabilidade social.

E a reflexão me ajudou a perceber que não precisaria ir até a Guatemala para encarar uma realidade de pessoas que vivem com pouquíssimo, ela está bem próxima e minha ajuda começa a partir do lixo que produzo todos os dias em minha casa e da necessidade que todos temos de selecionar o que pode ser reciclado.

Em pesquisas superficiais e com a ajuda de um irmão inteirado dos assuntos ambientais, calculamos que em média um catador recebe 20 centavos por cada quilo de papelão. O saldo final de um dia cansativo é mínimo, mas precioso e necessário para sustentar uma família inteira.

Não é a primeira vez que falo de lixo, mas vez por outra me deparo com situações que me forçam lembrar e bater na mesma tecla, pela falta de comprometimento e ajuda dos órgãos públicos e pela necessidade de consciência ecológica que todos devemos ter.

Dia desses, enquanto descia uma ladeira na chuva, vi um catador fazendo o sentido inverso puxando um carrinho que não tinha menos de 20kg de entulho. Vi um homem de idade carregando o mundo nas costas. As mãos calejadas que seguravam os cabos do carrinho estalaram mais uma vez na minha mente a verdade incontestável de que nada fazemos para ajudar. E do quão pouco é necessário fazer.

Trabalhar em prol da coleta seletiva é acima de tudo uma questão ética, e a fonte da ética é o sentimento humano. “Pequenas mudanças geram grandes impactos”. Ajudemos então o catador a carregar um mundo que também é nosso nas costas e poupá-lo de colocar a mão no lixo que não lhe serve.

Elisa Damante

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