Cientista político avalia ascensão de Ricardo Coutinho no cenário nacional

Flávio: “Coutinho pode almejar o que quer que seja”
Flávio: RC pode almejar o que quer que seja

Ricardo Coutinho e o Brasil. Esse é o título do artigo de autoria do cientista político e professor da Universidade Federal da Paraíba, (UFPB), Flávio Lúcio, publicado neste final de semana no Jornal da Paraíba. O texto avalia a ascensão do governador paraibano no cenário nacional, sobretudo depois da entrevista concedida a uma das principais redes de TV no País.

“O indício mais claro de que Ricardo Coutinho já se projeta para se tornar um nome reconhecido nacionalmente foi o convite para entrevista que o governador concedeu ao programa É Notícia, da Rede TV. Do programa já participaram, só para citar os entrevistados mais recentes, José Serra, Fernando Haddad, Marco Aurélio Mello, os ministros Ricardo Berzoini, Edinho Silva, José Eduardo Cardozo, e os economistas Delfim Netto, Luiz Carlos Bresser Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo. Só é entrevistado em programas como esse quem tem o que dizer sobre o país e quem desperta interesse da mídia”, observa o cientista político em seu artigo.

Para o professor Lúcio Flávio, outro indício da ascensão de Ricardo Coutinho no cenário político nacional foi o fato de o paraibano ter sido o escolhido como porta voz do Nordeste no recente encontro promovido pelo presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB) com os governadores de todos os estados brasileiros.

“Nos debates sobre o pacto federativo, que foi tema de reunião entre os governadores, convocada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, RC foi sem dúvida o nome de maior destaque. E uma representativa reunião, diga-se de passagem. Dela participaram todos os 27 governadores. Na ocasião, Coutinho falou novamente em nome dos governadores do Nordeste, ao lado de Geraldo Alckmin, de São Paulo, Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul, Simão Jatene, do Pará e Rodrigo Rolemberg, do Distrito Federal, que representaram suas respectivas regiões”, enfatiza o professor.

Leia abaixo à integra do artigo do cientista político Flávio Lúcio.

Ricardo Coutinho e o Brasil

O indício mais claro de que Ricardo Coutinho já se projeta para se tornar um nome reconhecido nacionalmente foi o convite para entrevista que o governador concedeu ao programa É Notícia, da Rede TV. Do programa já participaram, só para citar os entrevistados mais recentes, José Serra, Fernando Haddad, Marco Aurélio Mello, os ministros Ricardo Berzoini, Edinho Silva, José Eduardo Cardozo, e os economistas Delfim Netto, Luiz Carlos Bresser Pereira e Luiz Gonzaga Belluzzo. Só é entrevistado em programas como esse quem tem o que dizer sobre o país e quem desperta interesse da mídia. Como Ricardo Coutinho tem assumido a linha de frente nas questões de interesse do Nordeste, o interesse por essa nova liderança ascendente – quem é ela, o que ela pensa? – é provável que cada vez mais o governador receba convites como esses. Nos debates sobre o pacto federativo, que foi tema de reunião entre os govenadores, convocada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, RC foi sem dúvida o nome de maior destaque. E uma representativa reunião, diga-se de passagem. Dela participaram todos os 27 governadores. Na ocasião, Coutinho falou novamente em nome dos governadores do Nordeste, ao lado de Geraldo Alckmin, de São Paulo, Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul, Simão Jatene, do Pará e Rodrigo Rolemberg, do Distrito Federal, que representaram suas respectivas regiões.

Ocupando espaços

Essa liderança de RC tem algumas condições que, claro, se sobrepõe a sua capacidade inquestionável de articulador político. A primeira delas é que dos nove governadores eleitos em 2014, Coutinho é um dos únicos, ao lado do governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), a continuar no cargo. Todos os outros são marinheiros de primeira viagem. Além disso, Ricardo Coutinho pertence a uma safra de governadores que assumiram os governos dos estados nordestinos e que estão à esquerda e à centro-esquerda no espectro político nacional – dos nove governadores nordestinos, três são do PT, dois do PSB e um é do PCdoB. Ao se recompor politicamente, em 2014, com esse campo de partidos e ao apoiar Dilma Rousseff no segundo turno, Ricardo Coutinho lastreou as condições para, reeleito governador, se apresentar como liderança regional e projetar seu nome nacionalmente. Ou seja, Ricardo farejou o imenso espaço vazio existente e cuidou de ocupá-lo. O que já era perceptível na iniciativa que ele tomou de convocar os governadores nordestinos eleitos para uma reunião que aconteceu em João Pessoa, no início de dezembro do ano passado. Logo depois da reunião, senti-me tentado a enviar uma mensagem ao secretário de comunicação, Luís Torres, para registrar minha impressão. Entre outros breves comentários sobre os posicionamentos do governador, escrevi o seguinte: “Reforcei essas convicções depois de escutar as declarações do governador ontem durante o encontro dos governadores nordestinos. RC cria as condições para se tornar uma liderança nacional.” É claro que ainda é muito cedo para concluirmos se a liderança de Ricardo Coutinho permitirá passos mais ousados nas disputas de 2018. Um dos pontos ainda a serem resolvidos é sua posição dentro do PSB, um partido que vem assumindo aos poucos um viés mais à direita, o que aproxima o partido nacionalmente do campo que, na Paraíba, combate politicamente o governador. A fusão com o PPS reforça essa tendência. Mesmo na eventualidade de Coutinho vir a ser o nome do PSB para a Presidência, ele terá de abraçar um programa de governo ideologicamente muito distante de suas convicções históricas, como já foi o de Eduardo Campos no ano passado. Essa é uma questão que tende a ser cada vez mais relevante na medida em que 2018 se aproxima e as alianças vão se formando, e vai se desenhando um novo quadro político.

É importante também observarmos os movimentos dentro do PMDB. Como ao que parece esse partido tende a se afastar cada vez mais do PT e lançar uma candidatura em 2018, como já defende Eduardo Cunha e outras lideranças peemedebistas, abrir-se-á um espaço vazio no campo hegemonizado pelo PT, que o obrigará a buscar novos aliados para compor a possível chapa que deve ter Lula na cabeça. Como dificilmente o PT terá disponíveis nomes mais de centro, como os últimos vices José Alencar e Michel Temer, é provável que a chapa petista tenha uma composição mais à esquerda, com grande possibilidade de que seja um nome do Nordeste. Se for isso mesmo, RC terá grandes dificuldades de ser esse nome se ele permanecer no PSB.
O certo hoje é que RC avança na estratégia de nacionalizar seu nome, que seja qual for o objetivo, vem a ser um passo importante na trajetória de qualquer político. Ele só tem a ganhar com isso. Ainda jovem e com um governo em andamento que precisa ser vitorioso, Coutinho pode almejar o que quer que seja. Alguém na Paraíba ainda duvida disso?