Tem dias que a gente está reflexiva, querendo pensar na morte da bezerra ou porque que as coisas são assim. Por esses dias ouvi que a ética e moral estão mortas. Quase uma sentença nietzschiana. Curiosa, fiquei atenta ao diálogo. Ele era bem simples, mas carregado de anomia social. Aquela desesperança no presente e no amanhã. É o que acontece com todos com toda essa turbulência que é nosso cotidiano individual e coletivo por esses dias.

Está tudo tão líquido. Veja o caso de alguém que convive uma vida inteira com outro e depois se vê diante da traição sistemática. Será a terceira pessoa a personificação da morte da ética e moral deste outro?

São desejos, vontades que fluem, sem necessariamente abalar o primeiro amor. São tempos modernos estes. Em verdade, é como comer feijão e arroz de segunda a sábado. Apesar de amar essa mistura autenticamente brasileira, no domingo quer uma lasanha. Apenas para quebrar a rotina. Apenas para provar outros sabores, aromas e cores. Porém, o feijão e o arroz são indispensáveis. Ponto final.

A refeição que começou sendo furtiva, extemporânea, se afixa no calendário, tornando-se necessário remédio contra os estresses da vida. Poderia ser domingo, mas poderia ser como na música do Charlie Brown Junior, Quinta-feira:

“Parecia inofensiva, mas te dominou”

A ética e a moral em tempos líquidos é algo de estremecer os pelinhos de nossa memória e de nosso modelo de sociedade ideal. Como se sente vendo o presidente de um Tribunal Superior Eleitoral absolver Temer? E um ministro do Superior Tribunal Federal liberando Aécio para a vidinha fanfarrona dele lá no Senado? Gilmar Mendes tem-nos feito chorar e iniciar o nosso luto quanto ao senso de justiça.

Um ex-presidente condenado sem provas. Um sistema de comunicação hegemônico envolvido em sonegação fiscal. Um procurado pela Interpol defendendo um presidente não eleito pelo voto como se fosse o herói de nossa pátria. Um perseguido nos tempos da ditadura militar defender com unhas e dentes o golpe parlamentar de hoje. Um cara que faz o milagre de chover dinheiro em uma Capital pregando a queda de um governo que apoiou até ontem. Um prefeito que surfava na onda da atitude para mudar pego recebendo propina.

Diante desta conjuntura, a nação grita sim por mudanças, o Congresso diz que não é necessário. Eis o desequilíbrio das instituições. Quando da ocasião do processo de impeachment de Dilma Rousseff, havia debatido com um dos melhores jornalistas de nossa Paraíba que elas estariam em risco. Ele negou à epoca. Afirmou que tudo funcionava plenamente. Hoje, constatamos que estava tudo errado. Até você entende que está tudo errado. É urgente mudar. Na pior das hipóteses, você pode mudar tudo isso ano que vem.