“Batman Vs Superman” é um ótimo filme de super-heróis tanto para geeks quanto para leigos

Não, eu não cresci lendo histórias em quadrinhos e nunca fui lá muito fã de super-heróis quando criança. Meu apreço por esse universo só foi despertado com a trilogia do “Cavaleiro das Trevas”, do Christopher Nolan, e quando certo dia eu resolvi dar uma chance e fiz maratona dos primeiros filmes da Marvel.

Bem diferentes em suas narrativas, cada um dos universos, o do Nolan e o da Marvel, acerta onde o outro peca. Um é sombrio demais e ou outro cômico demais.

Por isso, foi extremamente gratificante para mim sentar numa cadeira e ver esses dois mundos colidirem lindamente em “Batman Vs. Superman – A Origem da Justiça” na última sexta-feira (18) no México. Mesmo que estivesse com uma legenda em espanhol em que “Gotham” virava “Ciudad Gótica”. Hahaha!

Sem dar muitos spoilers, “Batman Vs Superman” é um filme extremamente sombrio e trágico, mas ao mesmo tempo tem poucos e eficientes momentos de alívio cômico. Principalmente no que diz respeito ao jornal Daily Planet, onde trabalham Clark Kent (Henry Cavill) e Lois Lane (Amy Adams). Mas isso talvez tenha sido por eu ter visto numa sessão apenas para jornalistas.

Toda a minha introdução foi para explicar que, pela primeira vez, eu senti a emoção de ler histórias em quadrinhos. E eu estava vendo um filme. Cada frame, na minha percepção leiga, parecia retirado de uma página de HQ. Eu nunca vi um filme blockbuster baseado em quadrinhos que me fez sentir tão dentro desse universo e é por isso que esse filme era o que o mundo andava precisando: fugir do excesso de bom-humor da Marvel, mas sem deixar de flertar com esse item que não deixa de ser clássico nas histórias.

Não, isso não quer dizer que esse seja o melhor filme de super-herói já feito. De longe não é. Apenas era necessário esse equilíbrio, esse balanço. Isso sem falar que serve como um ótimo prólogo para “Liga da Justiça”.

Aceitem, Ben Affleck é um ótimo Batman

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Todo mundo se lembra da enxurrada de críticas que foi a escolha de Ben Affleck para o papel de Bruce Wayne em “Batman Vs. Superman”, né? Todo mundo dizia:

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Mas os haters vão ter que aceitar, Ben Affleck é sim um ótimo Batman. Fisicamente, ele estava quase irreconhecível no filme. Há algumas cenas na Batcaverna em que ele faz exercícios pesados sem camisa e a gente vê o quanto ele “ficou grande, porra” para esse filme.

Na estreia do longa no México no final de semana, eu conversei rapidamente com o Ben e ele admitiu que todas as cenas de luta do filme eram fake, mas que todo o peso que ele aparece levantando no longa é real. Será?

Bem, mas isso não é o principal. O Batman do Ben Affleck aparece no filme lutando com as suas clássicas questões éticas, de não matar, por exemplo. O alvo, e isso não é spoiler, vocês já podem imaginar que seja o Superman.

Além disso, outra coisa sensacional do novo Batman é que ele explora ao máximo o único super-poder do Bruce Wayne, o dinheiro. Talvez eu também achei que, pela primeira vez, estivesse mergulhado nas folhas de HQs da DC Comics por ver um Batman tão cheio de truques e gadgets. Todas as ferramentas clássicas do personagem estão lá.

A Mulher-Maravilha é mesmo maravilhosa

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Muitos também duvidavam da Gal como Mulher-Maravilha, mas, sim, ela é mesmo maravilhosa. Sem falar que todos na sala de cinema ficaram em choque quando um dos arquivos secretos de Lex Luthor (Jesse Eisenberg) revelou uma foto dela com o Chris Pine numa cena quem vem aí no filme solo dela.

Tentando evitar spoilers, já pelos trailers dá para ver que ela é a personagem chave na luta contra o Apocalipse e desempenha um ótimo papel nessa batalha. Talvez só faltou um pouco mais da demonstração de luta física que a Gal Gadot é capaz, sem tantos artifícios gráficos. Mas vamos deixar isso para o filme solo.

Outra coisa que pareceu um pouco deslocada na personagem, e que a gente só vai ver direitinho no filme “Liga da Justiça”, ou não, é como ela foi descoberta por Lex Luthor. A Diana aparece no filme, de início, apenas com a intenção de resgatar fotos que Lex tem dela. Como ela descobre que ele tem a foto? Ninguém sabe. Assim, parece casual demais o encontro dela com o Bruce Wayne.

Até que enfim, o Superman que a gente queria

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“Homem de Aço”, de 2012, é horrível. Sério. No final das contas, naquele filme, a Lois Lane que salvou todo mundo, ela que foi a grande heroína. Esperava-se mais do Superman ali, mas a gente perdoa por ter sido a primeira vez dele tentando salvar à Terra.

A redenção, sem dúvidas, vem com “Batman Vs Superman”. O kryptoniano é o grande herói do filme e a voz da razão o tempo inteiro. Ele briga sim com o Batman, mas por insistência de Bruce, enganado por Lex Luthor. O tempo inteiro o Homem de Aço tem uma enorme seriedade e evita o conflito, mesmo quando sua própria família é colocada em risco.

Sem mais spoilers, ao final a gente só quer abraçar o personagem do Henry Cavill e agradecer por todos os sacrifícios que ele faz no longa.

Agora, os spoilers…

A gente tava evitando entrar em grandes spoilers, mas é impossível não falar sobre alguns acontecimentos do filme. Até porque são muitos. Um atrás do outro. Sem sossego.

Então, não precisa nem falar que, quem não viu o filme ainda, precisa parar de ler imediatamente, né? 

Flash, Ciborgue e Aquaman

O problema de muitas coisas no mundo do entretenimento é só um: expectativa. A gente sabe que é “Batman Vs Superman”, e não “Liga da Justiça”, mas a gente esperava ver um pouquinho mais.

Com exceção da Mulher-Maravilha, fundamental na luta contra o Apocalipse, e do Flash, importantíssima para abrir os olhos de Bruce Wayne, as aparições do Cyborgue (Ray Fisher) e do Aquaman (Jason Momoa) foram deslocadas demais – e ao mesmo tempo curtas demais. Foi emocionante vê-los na tela, sim. É de fazer você pular pra ponta da cadeira e soltar um “caralho” mudo. Mas talvez desnecessário, pelo menos da forma que foi feita. Esse teaser da “Liga da Justiça” poderia ser melhor e mais bonito.

Lex Zuckerberg Luthor

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Foi estranho imaginar o Jesse Eisenberg, com aquela cara de bonzinho, como o grande vilão da história. Ele sempre foi muito fofo, mas foi só o personagem aparecer no filme para a gente ficar com repulsa dele.

O vilão é um ser bastante antipático, louco e com sérios problemas que traz da sua infância. Além disso, é sim legal ver a versão moderna do personagem, como um Mark Zuckerberg do mal.

Ainda não dá para saber  se ele estará em “Esquadrão Suicida”, mas, com certeza, ele é uma baita de uma introdução para o mundo de vilões loucos da DC Comics no cinema. Tudo, absolutamente TUDO, que acontece de ruim no filme é culpa dele, orquestrado por ele.

Apocalipse x Superman

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É por ter tanta coisa acontecendo que, talvez, alguns spoilers acabaram aparecendo já nos próprios trailers do filme, como o primeiro em que vemos a aparição do Apocalipse. É desnecessário. O Apocalipse é um dos grande plot twists da história, só aparece lá no final. É ele que faz Superman e Batman se unirem (e a Mulher-Maravilha chegar junto). Honestamente, a gente não precisava saber disso antes de ver o filme.

Aliás, conversando com o colega Pedro Antunes, do Estadão, ele levantou a ideia da própria aparição do Apocalipse no filme ser desnecessária, adiantada demais, mas isso é um assunto que eu não posso entrar, por não ter conhecimento a respeito das HQs.

Quando eu conversei com o Zack Snyder, diretor do filme, no tapete vermelho da première, meu questionamento foi exatamente em relação aos spoilers dos trailers. “Pela minha experiência, sempre tem muito dos filmes que não estão nos trailers. Eu queria que as pessoas entendessem, pelo trailer, o tipo de filme que estávamos fazendo”, me respondeu.

E tem mesmo, como o principal deles, que é o motivo de ter feito nós, jornalistas, assinarmos uma série de documentos nos comprometendo a falar sobre o filme apenas hoje, dia 23. E realmente é um spoiler sério, então, de verdade, só continue a ler se você já viu o longa (já tivemos pré estreias ontem e teremos mais algumas ainda hoje).

Por que diabos matar o Superman antes mesmo de um “Homem de Aço 2”? Parece ingratidão com o herói matá-lo sem nem termos a oportunidade de o conhecermos direito, e num filme em que temos a nossa atenção mais desviada para o novo Batman e a nova Mulher-Maravilha. Sim, porque “Batman Vs Superman” é bem dividido, definitivamente não é um “Homem de Aço 2”.

Tudo bem que a gente sabe que ele vai voltar, mas a morte do Superman é a grande mitologia do universo DC e “Liga da Justiça” nem começou a ser filmado ainda. Para ficar bonito, seria legal que eles já tivessem aparecido, para carregar o caixão do herói numa grande comoção. Aí matam o Superman e o Bruce Wayne e a Diana Prince precisam ver o velório escondidos, sem ainda nem se conhecerem direito.

De qualquer jeito, parece ser uma má ideia independente do caminho que eles escolham: se o personagem estiver na “Parte 1”, vai ser sem graça ele retornar assim logo de cara, mas, ao mesmo, tempo, também será sem graça ver todos os heróis reunidos, mas sem o maior deles, o Superman. Mesmo que ele reapareça na “Parte 2”.

Apesar de tudo isso, temos que admitir. É lindo e emocionante ver todo o sacrifício que o herói faz no filme, tanto para salvar a Lois (que salvou todo mundo no primeiro filme e agora foi quem cagou tudo), quanto para salvar a humanidade em si. É a prova mais absoluta da verdadeira alma bondosa e heroica do personagem.

Empire UK - March 2016

Isso tudo parecem críticas pesadas ao filme, mas são apenas grandes questionamentos. Nada disso tira a sua magia ou diminui a emoção de quem assiste. Como a gente disse desde o começo, todo o longa parece uma grande HQ, é uma bela de uma adaptação e homenagem que o Zack Snyder faz.

É por esses questionamentos que a gente afirma que esse não é o melhor filme de super-heróis já feito. Mas sim, é o que tanto fãs quanto leigos precisavam, por entregar tão bem uma adaptação de quadrinhos e fazer a gente se emocionar com a história, mesmo sem concordar com tudo o que está acontecendo ali. Sem falar na qualidade técnica espetacular. Os efeitos são maravilhosos e as cenas de batalhas totalmente incríveis.

As informações são do Papel Pop.